Na próxima quinta-feira dia 17/11, no MuBE aqui em São Paulo, será lançado o livro "BRECHERET E A ESCOLA DE PARIS". Sou suspeita pra falar, pois desde meus tempos pré-faculdade que admiro muitíssimo as obras de Brecheret. O livro é o resultado de dois anos de pesquisa sobre o período de 1921 a 1934, quando Brecheret viveu e produziu em Paris e seu relacionamento com os grandes artistas modernistas brasileiros e europeus. Imperdível.
Aqui, um texto de Victor Brecheret Filho.
"Ao apresentar ao público, “BRECHERET E
A ESCOLA DE PARIS”, em primeiro lugar desejo ressaltar que esse livro cobre uma
lacuna, revelando o período de quase quinze anos, durante os quais meu pai, o
escultor Victor Brecheret, esteve integrado na rica trama cultural dos années folles, em Paris. Lá chegou,
jovem talentoso, vindo de São Paulo,
polarizador dos anseios dos jovens futuristas nos momentos, que antecedem a
semana de 22. Viveu mergulhado nos meandros de Montparnasse, então capital
mundial das artes, desde julho de 1921, até 1934, com intervalos de vindas a
São Paulo. Construiu uma carreira de sucesso, à partir de 1923, com prêmios e
destaques dos mais importantes Salões, culminando com a aquisição de uma
estátua sua pelo Governo Francês e a condecoração de Cavaleiro da Legião de Honra
da França. Nesse momento, ápice de seu percurso artístico, ele deixa o circuito
internacional para realizar o sonho maior de sua vida, o Monumento das
Bandeiras, enfrentando quase duas décadas de dificuldades para concretizá-lo. Meu pai fez-me seu companheiro desde
quando posso me lembrar, levava-me consigo em todas
as suas andanças. Íamos só nós dois, para perto do mar, caminhando pela praia, a contemplar as ondas e as pedras.
Com ele tornei-me, também, um adorador do mar. Ficávamos horas olhando,
sentindo, em contemplação, vendo o mar bater nas pedras que, depois, ele ia
escolher na Praia das Vacas, recanto solitário e selvagem da bucólica São
Vicente daquela época. Também, com ele aprendi a plantar e cuidar de árvores frutíferas,
na chácara do bairro de São Francisco. No dia a dia, sempre o via incansável, a
modelar o barro e desenhar, preparar os gessos e os espeques. Victor Brecheret
não falava muito, tinha consciência de suas dificuldades em dominar uma língua:
fosse sua língua materna, afetado, que foi, quando criança, pela morte trágica
de sua mãe; fosse o português da terra, que adotou, com paixão, como sua. Quanto
ao francês que aprendeu, era absorvido da comunicação oral imposta pela
necessidade, mas mesmo assim tenho recordação de alguns flashes de suas
vivências em Paris, que ele me contava, relatos esparsos, recortes de suas
lembranças. Na realidade, meu pai era, antes de tudo, um ser intenso,
introspectivo, que vibrava uníssono com o ritmo da natureza e de sua arte.
Esse passado, que era tão tênue na
memória pessoal e histórica, vem à tona com a pesquisa séria e cuidadosa de
Daisy Peccinini, de forma clara e irrefutável, porque está baseada em
documentos múltiplos e fatos indicadores. De forma incansável, a historiadora
percorreu fontes primárias várias, não só as cartas de meu pai, mas dos
companheiros do modernismo paulista, endereçadas, principalmente, a um mesmo
destinatário, Mario de Andrade. A Professora Daisy Peccinini conseguiu
construir a história desses anos de Brecheret, as agruras e os sucessos, os
reconhecimentos, as tendências, que assumiu sua arte, como participante e
espectador da Escola de Paris. Participante da emergência do Art Déco e membro da comunidade cosmopolita,
que formou a Escola de Paris, como definida pelo livro de André Warnod e onde
consta seu nome .
BRECHERET E A ESCOLA DE PARIS desvela
um capítulo importante da vida do escultor Victor Brecheret e restaura a ligação
da arte brasileira com a revolução européia, para ser partilhado por todos. Está
preenchida a lacuna."
Victor
Brecheret Filho
Presidente
do Instituto Victor Brecheret
bjs,
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